Aplicações com realidade aumentada. Atendimento digital e personalizado. Inteligência artificialInternet das Coisas. Óculos de realidade virtual. Essas são algumas tecnologias que você provavelmente veria na área de pesquisa e desenvolvimento das startups, negócios conhecidos por sua inovação e escalabilidade. Porém, tais novidades já estão presentes em um tipo de empreendimento muito diferente: as redes de franquias.

Há cerca de três anos, as franqueadoras começaram a se aproximar de forma mais intensa da inovação, como forma de adquirir diferencial competitivo. O uso da tecnologia para tal, porém, tornou-se uma preocupação apenas em 2017 – e será ainda mais presente no ano que vem.

“Com o ambiente crítico do Brasil, a franqueadora e as franqueadas se reuniram para achar novas soluções dentro do franchising – novas modelagens de negócio, negócios mais enxutos e redefinição de produtos e serviços”, analisa Altino Cristofoletti Jr., presidente da Associação Brasileira de Franquias. 

A ABF ficou atenta ao movimento de inovação das franquias neste ano: durante a ABF Franchising Expo deste ano, em São Paulo, uma área da feira chamada de Smart Mall foi dedicada às redes de franquias com mais novidades tecnológicas.

A associação também se aproximou das startups: além de realizar missões ao Vale do Silício, nos Estados Unidos, criou o Concurso Cultural de Startups para Soluções Aplicáveis no Franchising Brasileiro, premiando três startups focadas em varejo em outubro deste ano. Mais de 80 negócios inovadores se inscreveram.

A Decision 6 traz métricas do mundo digital para a loja física, convertendo dados mensuradas em maior rentabilidade para as unidades franqueadas; a Reviewr, que cuida da reputação da marca a partir das avaliações feitas pelos consumidores na internet; e, por fim, a Send4 aumenta as vendas online e offline de franquias, cruzando clientes entre marcas e gerando promoções de impulso aos consumidores.

Como prêmio, as três startups puderam detalhar suas soluções para cerca de 600 líderes do franchising nacional. As vencedoras tiveram, ainda, um espaço na Expo Service, destinada a fornecedores do setor de franquias, para apresentar em detalhes seus serviços.

Tais iniciativas não apenas trazem clientes maiores para tais startups, mas também ajudam a quebrar a ideia de que as franquias são apenas os negócios mais tradicionais e seguros para quem quer começar a empreender.

“Se antes a gente tinha um trabalho muito consistente em ter uma diminuição de riscos das unidades em comparação com negócios próprios, com a introdução de tecnologia vamos ficando muito mais próximos do cliente, com o franchising entrando nessa pauta tão atual que é a transformação digital pela qual passamos”, diz Cristofoletti Jr.

Tecnologias como realidade virtual podem aproximar franquias, funcionário e clientes; a internet das coisas deve ter um grande impacto nos pontos de venda e na estratégia de aproximação das marcas, com sistemas de interação com os clientes; o big data deve trazer informações relevantes às franqueadoras.

“A ABF entende que investir em tecnologias traz benefícios para marcas que queiram franquear. Isso terá um impacto direto nas marcas e estamos atentos a esse movimento, trazendo para dentro do sistema de franchising as inovações.”

O que esperar para o futuro (e como se preparar para ele)

A preocupação com a inovação tecnológica foi constante em 2017 – e, segundo as próprias franqueadoras, o investimento continuará nos próximos anos. Porém, é preciso que as marcas se preparem se quiserem uma transformação efetiva em suas unidades franqueadas.

Fábio Gandour, cientista-chefe da IBM Brasil e responsável pelo projeto Watson no Brasil, deu uma palestra para franqueadoras em evento organizado pela ABF. Em entrevista ao site EXAME, ele detalhou sua análise sobre como a inovação se relaciona com as redes de franquias.

O primeiro ponto é: não há como inovar de maneira geral. Cada transformação é feita com base em uma conjuntura: o setor da franquia, o local onde ela se instala e seu público-alvo, para citar apenas alguns fatores.

“Quando eu comecei a me preparar para o evento, percebi que o franqueador acha que a inovação pode ser uma só para todos os franqueados. E não é bem assim”, alerta Gandour. “No negócio de franquias, você franqueia uma loja que será instalada em Belo Horizonte, Piracicaba ou Porto Alegre. Em cada ponto em que a franquia se instala há um ecossistema diferente, e esse ecossistema recomenda uma inovação diferente.”

Outro mito que as franqueadoras devem prestar atenção é o de que inovar é, necessariamente, construir uma tecnologia, como um aplicativo ou um equipamento que acende e apagada. Como vimos, uma nova forma de atendimento pode ser considerada uma inovação. Outra tendência é a análise de sentimentos do consumidor quanto a determinado produto ou serviço, que envolve soluções cognitivas, como o próprio Watson, focadas em neuromarketing.

“A inovação, no processo de franquia, é muito mais relacionada com o consumidor, com um caráter comportamental. Há um foco muito grande no usuário, além da tecnologia. Cada franquia tem de encontrar sua forma de causar uma boa experiência do usuário, e essas formas são diferentes de uma franquia para outra, inclusive dentro da mesma rede”, conclui Gandour.

Fonte: Exame

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